segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

JESUS FOI GERADO PELO PAI?

Existem muitos textos que, se não forem interpretados corretamente podem gerar problemas para o entendimento da mensagem bíblica. Dessa forma, é muito importante uma leitura atenta e desprovida de interesses pessoais ou pontos de vista “apaixonados”.

Existem pelo menos dois textos usados para defender a posição de que Cristo é um ser gerado, uma criatura. O primeiro deles é o texto messiânico do Salmo 2:7 onde lemos: “Proclamarei o decreto: o Senhor me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei”. O segundo texto é o de Colossenses 1:15 que diz: “O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação”. A pergunta então é, como entender esses dois textos? Também devemos refletir se seria Cristo então uma criatura, uma espécie de Deus menor como alguns defendem?

O SALMO MESSIANICO

No caso do Salmo 2:7 o texto está falando primariamente sobre o Rei de Israel (monarca), e o que está sendo dito ali de forma resumida é que, Deus o colocou (o rei) naquela posição, ele foi escolhido (ungido) por Deus para exercer aquela função. Em suma, a posição daquele homem é fruto da vontade divina. Podemos entender que o homem (Davi por exemplo) já existia, mas Deus o fez rei, ou seja o gerou como Ungido.

Quando aplicamos o texto à pessoa de Cristo, a situação muda consideravelmente. O comentário de Beacon diz que,

“... Estas palavras são aplicadas à ressurreição de Jesus por Paulo em seu sermão em Antioquia (At 13.33), e pelo escritor aos Hebreus, tanto em relação à filiação de Jesus como sendo superior aos anjos (Hb 1.5) como em Cristo ter sido feito sumo sacerdote pela própria ação de Deus (Hb 5.5). Somente neste texto do AT o termo gerei é usado tendo o Senhor como seu tópico. Em relação a Cristo, a palavra hoje tem recebido diversas interpretações. Ela pode ser entendida como o “dia” da sua geração eterna, o dia da sua concepção pela virgem ou o dia da sua ressurreição (Rm 1.4). Alguns entendem que todo o seu estado encarnado é visto como o seu “dia”.” [1]

É importante notarmos então que as aplicações são diferentes. Não podemos dizer que o rei e Cristo estão em pé de igualdade no momento de fazermos as devidas aplicações do texto.

Derek Kidner em seu comentário dos Salmos relata também:

“Aqui, as palavras podem ter sido faladas como oráculo ou lidas em alta voz pelo rei (“Proclamarei...”) no rito da coroação,3 como sugere a palavra hoje, para marcar o momento em que o novo soberano formalmente assumiu sua herança e seus títulos. A conexão entre esta proclamação e a ressurreição, em At 13:33 (cf. Rm 1:4), é duplamente significativa contra tal pano de fundo. Para qualquer rei terrestre, esta forma de trato somente poderia suportar uma interpretação levíssima; o Novo Testamento, no entanto, nos obriga a aceitar seu valor inteiro que exclui os próprios anjos, deixando um só candidato de posse do titulo (Hb 1:5). Na ocasião do batismo de Cristo, e na da Sua transfiguração, o Pai O proclamou Filho e Servo, em palavras tiradas deste versículo e de Isaías 42:1 (Mt 3:17; 17:5; 2 Pe 1:17).[2]

Sendo assim, os textos não parecem mostrar uma geração em termos de existência, mas sim em termos de posição/função. E o problema óbvio de colocarmos Cristo como um ser gerado, recai sobre seu papel enquanto Criador. Nesse caso a pergunta mais importante seria: como admitir que uma criatura tivesse as prerrogativas de ser o Criador tal qual YHWH? A resposta então deve se basear no que a Bíblia diz sobre o Filho como Criador, e em João 1:1-3, é dito entre outras coisas que o Verbo (Jesus) “era Deus”. Se João imaginasse que Jesus não era Deus como Pai, ele teria explicado isso na abertura do seu livro, e obviamente isso não acontece.

Usar esse texto (Salmo 2:7) para defender que Jesus é um ser gerado por Deus não se mostra uma alternativa plausível e coerente com o restante do texto bíblico.

O PRIMOGÊNITO

Colossenses 1:13-23 é um texto bastante importante no que diz respeito a identidade Jesus e sua atuação como nosso Salvador. Paulo nesse texto está mostrando que Cristo é o Redentor do mundo e tudo que nele existe. O Apóstolo faz uso do termo “primogênito”, fazendo claramente uma referência à importância de que Jesus tem. Vale lembrar que, para o entendimento pleno do que o Paulo está falando devemos ler todo do parágrafo, e não somente o verso 15.

A palavra “primogênito” não indica necessariamente geração ou filiação. O AT faz uso do termo apontando para a importância de determinado personagem, não tendo necessariamente a intenção de se referir a ele como o primeiro em termos de geração ou cronologia. Alberto Timm, explica de forma simples o uso da palavra “primogênito” no AT quando diz:

Para entender essa questão, é importante ter em mente que, entre os israelitas, todo o primogênito deveria ser consagrado ao Senhor (Êx 13:1-16; ver Lc 2:22-24), recebendo herança “dobrada” em relação aos demais irmãos (Dt 21:15-17). Embora o termo “primogênito” seja normalmente usado para designar o primeiro filho de um casal, ele é também empregado na Bíblia em relação a um dos demais filhos, que não o mais velho, mas que tenha se destacado entre os seus irmãos. É neste sentido que Deus qualificou a Israel, que não era a nação mais antiga da terra, de “meu primogênito” (Êx 4:22); a Efraim, o segundo filho de José e Azenate, de “o meu primogênito” (Jr 31:9); e a Davi, o mais novo dos oito filhos de Jessé, de “meu primogênito, o mais elevado entre os reis da terra” (Sl 89:27).[3]

Dessa forma, ao olharmos para o texto de Paulo à luz das ferramentas hermenêuticas corretas, veremos que “Cristo é qualificado de “o primogênito de toda a criação” (Cl 1:15) em um contexto que O enaltece como o Criador que está acima de toda a criação”.[4] O texto está apontando para importância que Jesus tem, e não está declarando sua origem. Se conectarmos esse texto, ao que diz Isaias em 9:6 de seu livro, a interpretação de Jesus como um ser gerado fica ainda mais absurda. O profeta afirma: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”

Como um ser criado pode ser “Deus Forte”? Como alguém que teve um inicio pode ser chamado de “Pai da eternidade”? Essas perguntas não podem ser desconsideradas ao tratarmos da geração ou eternidade de Cristo.

Pr. Vanius Henrique Dias
vaniusdias@hotmail.com



[1] Comentário Bíblico Beacon, Volume3, pag. 117
[2] Salmos 1 – 72. Introdução e Comentário, pag. 66, 67
[3] Alberto R. Timm - "Como Cristo pode ser “o primogênito de toda a criação” (Colossenses 1:15) sem ter sido criado?" Disponível em http://centrowhite.org.br/perguntas/perguntas-e-respostas-biblicas/sem-contradicao/
[4] Ibdem

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