domingo, 12 de abril de 2020

Cristianismo sem Cristo - Gl 1:8

Ninguém pode negar que se espera de todo cristão um comportamento ético, moral, exemplar. Vez por outra escutamos frases como “você é crente e fez isso?” Essa pergunta não pode ser vista sempre como uma acusação, mas penso que em boa parte das vezes ela reflete certa surpresa, uma vez que não se espera que o seguidor de Cristo tome determinadas atitudes negativas. Qualquer comportamento inadequado de um cristão é um desserviço ao Evangelho, à missão e a Igreja.

Mas devemos entender uma coisa muito importante. Por mais que se espere do crente um padrão comportamental exemplar, isso não reflete, ou não significa que alguém seja um bom cristão somente por isso. O que define de fato um cristão é a fé em Jesus Cristo. A convicção de que Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. A certeza que Ele é o caminho, a verdade e a vida. E acima de tudo crer com convicção inabalável que Ele é o Alfa e o Ômega (Ap 1:8), o Verbo que se fez carne (Jo 1:1), enfim crer que Ele é Deus! 

Para muitas pessoas Jesus foi um bom homem, um filósofo, um revolucionário e isso não é mentira. Analise por exemplo a profundidade filosófica do Sermão da Montanha. O próprio Gandhi chegou a dizer que mesmo que Jesus não fosse divino, mesmo que Cristo não fosse o Messias da profecia bíblica, ele continuaria vendo o Sermão da Montanha como uma verdade. Ocorre que Jesus não é apenas um filósofo revolucionário. A Bíblia o apresenta como Deus encarnado e isso faz toda a diferença!

A Igreja primitiva levava isso tão a sério que consideravam a vida e ministério de Cristo as boas novas sobre o Acontecimento. Isso significava dizer que, as crenças fundamentais vinham primeiro, e só depois as questões comportamentais. Em outras palavras, se o sujeito não confessasse que Jesus era Deus não adiantava ele ser bonzinho, honesto ou educado. Se não criam que Jesus era Deus, então não serviam para ser cristãos. Pode parecer radical, mas era assim que eles “testavam” quem realmente tinha se convertido.

Hoje o fenômeno se repete. Existem muitas pessoas admirando e até copiando a forma de viver de Jesus, mas não confessam que Ele é Deus. Isso não pode ser chamado de cristianismo, talvez possa ser mais uma maneira de entender o que Paulo queria dizer com “outro evangelho” (Gl 1:8). Nosso papel como cristãos é confessar que Jesus é o Senhor, e só depois que estivermos absolutamente convictos disso é nossas “boas práticas” farão algum sentido. Viver um cristianismo de boas obras é importante, mas não podemos reduzir a nossa religiosidade a isso. Viver em função da ética, do comportamento aceitável pode não passar de um cristianismo sem Cristo. 

Na minha opinião, o desafio do cristianismo atualmente não é viver de forma exemplar, isso muitas pessoas que nem creem em Deus já estão fazendo. O maior desafio do cristão hoje é anunciar que Jesus de Nazaré é o Deus Poderoso que desceu do céu para habitar conosco, para ser diminuído à frágil figura humana a fim de se tornar compreensível para os limitados terráqueos. Para alguns Jesus é aquele que resolve nossos problemas, para outros Ele é aquele que preenche meu coração. Isso não é mentira, mas Ele não é só isso.
 
Também não devemos ver Jesus como um pobre coitado que foi traído por seus amigos chegados e por isso foi pendurado numa cruz. Precisamos enxergar em Cristo o Deus que se colocou debaixo da maior humilhação para dar a nós alguma chance de exaltação.

Fortaleça sua fé em Cristo, o Senhor de toda glória, o Rei dos reis e Senhor dos senhores. “E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.”  (Filipenses 2:11)




quinta-feira, 9 de abril de 2020

Não haja contenda entre nós - Gn 13:8


Disse Abrão a Ló: Não haja contenda entre mim e ti e entre os meus pastores e os teus pastores, porque somos parentes chegados. Gênesis 13:8

Penso que um dos maiores desafios da vida humana é o relacionamento interpessoal. Seja com parentes, colegas de trabalho ou amigos, manter um relacionamento harmonioso é realmente um grande desafio de todos nós. Quantas vezes nós não nos indispomos com pessoas próximas por questões mínimas? Observe, nós indispomos com pessoas próximas, raramente temos conflitos com pessoas que não são do nosso círculo.

Em dias de isolamento, quando estamos obrigatoriamente mais próximos dos nossos familiares, em alguns casos dos amigos que dividem casas e apartamentos, nossas habilidades relacionais têm sido colocadas à prova. Pela minha experiência aqui em casa posso afirmar que, embora o isolamento tenha nos aproximado mais, também existem momentos de tensão já que não é tão fácil passar 24h x 7d juntos. Hora do banho, louça, cuidado dos filhos, internet, etc podem se tornar fatores de conflito.

O texto de Gênesis 13:8 é surpreendente no sentido de que mostra alguém que embora tivesse motivos e direitos, resolve abrir mão disso para evitar o conflito. Abraão chama seu sobrinho Ló para uma conversa e decide que eles devem se separar. Ocorre que ele não manda simplesmente o sobrinho embora, Abraão oferece à Ló a oportunidade de escolher para onde ir. Isso pode parecer simples, mas não é.

No contexto do antigo Oriente a pessoa mais velha tinha do direito de escolher. Abraão portanto poderia ter ficado com o melhor lado, a melhor pastagem, e mandado seu sobrinho embora. Contudo ele não fez assim, ele deixou Ló escolher. E tudo isso por um motivo que está muito claro no texto. No verso 7 lemos que os pastores de Ló e de Abraão estavam entrando em atrito. É possível que boa parte desses pastores de ovelhas fosse parentes de Abraão e Ló, então o que temos aqui é um conflito não somente comercial, mas também familiar.

No final do verso 8 Abraão dá a razão da separação, e esse ponto deve chamar nossa atenção. Ele resolve que o melhor é a separação não por causa das ovelhas, não por causa dos negócios mas por que são parentes próximos. O texto diz “porque somos parentes chegados.” O interesse de Abraão era conservar o vinculo familiar. O patriarca estava preocupado com a unidade da família, com a amizade, o bom relacionamento entre todos. Abraão tinha convicção que a paz na família valia muito mais do que as ovelhas, as terras ou dinheiro.

Quanto vale sua relação familiar? Quanto vale sua amizade? O que você estaria disposto a abrir mão para que a harmonia dos relacionamentos seja mantida? As pessoas hoje brigam por um lugar no sofá, pelo controle remoto, pela vaga na garagem e muito mais. Precisamos aprender a ceder para conservar nossos relacionamentos. “Não haja contenda entre mim e ti” deveria fazer parte do nosso vocabulário mais vezes do que expressões como: isso é meu; cuida da sua vida; me deixe em paz; comprei com meu dinheiro; e outras.

Usemos esse período de quarentena para refletirmos sobre isso. Não deixemos que o estresse do dia a dia, ou a busca incessante por recursos, destruam nossos relacionamentos. Busquemos a harmonia e estejamos mais dispostos a abrir mão dos “nossos direitos” para preservar a unidade e a paz em nossa família, no ambiente de trabalho, na escola, etc. Evitar a contenda pode nos dar um tesouro muito maior do que qualquer lucro financeiro ou material. Lembre-se que existem coisa que o dinheiro não pode comprar!

Um abraço,

Pr. Vanius Dias

Pluralismo Religioso

Andei lendo, vendo, e pensando em algumas coisas. Fiquei tão impressionado e preocupado que resolvi escrever sobre o assunto, espero que d...