quinta-feira, 24 de maio de 2018

Jesus - a nossa propiciação "hilastērion"

Texto: Lucas 18:13, Romanos 3:23-25

INTRODUÇÃO

O evangelho de Lucas foi chamado o livro mais encantador do mundo. Uma vez um americano pediu a Denney que lhe recomendasse um bom livro sobre a vida de Cristo, ao que este respondeu: "Você já leu o que escreveu Lucas?" Não seria muito desacertado dizer que o terceiro evangelho é a melhor “vida de Cristo” que se escreveu. (Barclay, 4).

A tradição vincula cada um dos quatro evangelhos a um símbolo. Mateus é simbolizado pelo leão. Já o evangelho de Marcos é simbolizado pelo homem. No caso do livro de João temos o símbolo de uma águia. O evangelho escrito pelo médico Lucas é simbolizado pelo bezerro. O bezerro é símbolo de oferta pelo pecado. Logo, é assim que Lucas vê a Jesus. Ele vê o Mestre como sacrifício e propiciação para todo o mundo, não somente para esse ou aquele grupo. Lucas mostra um Salvador Universal!

Objetivos: (1)mostrar que todos somos pecadores; (2) demonstrar a postura do pecador verdadeiramente arrependido; (3) Esclarecer que somente Cristo Jesus é quem pode nos perdoar, nos habilitar para estarmos na presença de Deus.

Proposição: Embora as Escrituras nos mostre claramente que não há possibilidade de o homem ser salvo pro seus próprios méritos, algumas pessoas insistem em agir como se sua conduta fosse suficiente para obterem a salvação. Contudo, existem também aqueles que nunca se esquecem que “todos pecaram”, que obrigatoriamente “carecem da glória de Deus”. Na parábola do fariseu e do publicano, Jesus mostra claramente a distinção entre os dois grupos, e Paulo vai nos dar ainda uma visão mais ampla do significado do pedido daquele judeu publicano.

I – SIMBOLO DE DUAS CLASSES DE PECADORES

São pecadores, mas se esqueceram (v. 11,12)

Os fariseus eram pessoas respeitáveis perante a sociedade judaica. O próprio Cristo deu destaque a esse fato ao dizer que se a justiça humana não exceder em muito a justiça dos fariseus, não seria possível alcançar o reino de Deus. Podemos dizer que, se uma pessoa pudesse chegar ao Céu por meio de seus atos, os fariseus seriam fortes candidatos. E confiando nisso, o fariseu da parábola vai ao templo. Tem no seu coração o orgulho, a prepotência de imaginar que todos os seus atos são suficientes para coloca-lo em situação privilegiada diante de Deus.

Alguém disse que, a fala do fariseu é tão arrogante que, só faltava Deus aparecer a ele e perguntar: “Ok meu filho. Quanto eu te devo?” Existe um texto na tradição judaica atribuído à Simeão Ben Jochai onde ele declara: "Se só houvesse dois homens retos neste mundo, seríamos meu filho e eu; se só houvesse um, esse seria eu!" O fariseu realmente não foi orar, foi informar a Deus a respeito de quão bom era ele. (Barclay)

O fariseu da história de Jesus se esqueceu que era um pecador “miserável, pobre, cego e nu”. É mais ou menos como um peixe esquecer que precisa de agua para sobreviver, e assim tentar viver fora do aquário. Está condenado a morte!

Ellen White diz que, “Quando o pecado embota as percepções morais, o transgressor já não discerne os defeitos de seu caráter, nem reconhece a enormidade do mal que cometeu; e a menos que se renda ao poder persuasivo do Espírito Santo, permanece em parcial cegueira quanto aos seus pecados. Suas confissões não são sinceras e ferventes.(Caminho a Cristo, 40)

São pecadores e nunca se esquecem (v. 13)

Jesus agora coloca outro personagem na história. Dessa vez um publicano, e segundo a ótica de Lucas, um dos rejeitados. Um publicano era um cobrador de impostos, e talvez alguém pergunte: “que mal há em ser um cobrador de impostos?” Em situações normais diríamos, que não há qualquer mal nisso, afinal é um trabalho digno e necessário, ainda mais quando pensamos que muitas pessoas sonegam impostos e são corruptas. Mas o publicano nos dias de Cristo era um judeu que aceitou trabalhar para Roma, e assim cobrar os abusivos impostos  que o império exigia da população. Assim, não é difícil entender porque os publicamos são constante comparados à pecadores para os judeus “piedosos” daqueles dias. Jesus então está falando de alguém que está precisamente do lado oposto do fariseu, pelo menos na ótica humana.

Mas diferentemente do fariseu que se mostrou o “rei da cocada preta”, o publicano não tem dúvidas de quem ele realmente é. Sua atitude e suas palavras nos mostram isso. “Mantinha afastado, e nem sequer elevava os olhos a Deus. As versões comuns não fazem justiça à sua humildade, pois em realidade sua oração foi: ´Deus, sê propício a mim – o pecador´, como se não fosse meramente pecador, e sim o pecador por excelência.” (Barclay)

Esse homem nunca havia se esquecido de sua condição, nunca havia esquecido suas origens, nunca havia esquecido que era um pecador, merecedor da morte!

II – SIMBOLO DO PERDÃO DE DEUS

Vamos agora abrir um parêntese para tentar entender o que Jesus (ou Lucas) tinha em mente quando usou a expressão “sê propicio a mim”.

O propiciatório e a presença de Deus (Ex 25:17-22)

Depois de tirar o povo israelita do Egito, o Senhor pede a eles que construam um santuário. O motivo talvez mais significativo seja aquele expresso em Êxodo 25:8, quando Deus declara: “para que eu possa habitar no meio deles”. Mas além disso existiam lições a serem ensinadas por meio do santuário, era o desejo de Deus que os israelitas entendessem tais lições, que apontavam para obra redentora de Jesus.

“O edifício era dividido em dois compartimentos por uma rica e linda cortina (Santo e Santíssimo),... A tenda sagrada ficava encerrada em um espaço descoberto chamado o pátio,... No pátio, e bem perto da entrada, achava-se o altar de cobre para as ofertas queimadas, ou holocaustos. Sobre este altar eram consumidos todos os sacrifícios feitos com fogo ao Senhor,... Entre o altar e a porta do tabernáculo, estava a pia, que também era de cobre,... No primeiro compartimento, ou lugar santo, estavam a mesa dos pães da proposição, o castiçal ou candelabro, e o altar de incenso.... Precisamente diante do véu que separava o lugar santo do santíssimo e da presença imediata de Deus, achava-se o áureo altar de incenso.

Além do véu interior estava o santo dos santos, onde se centralizava a cerimônia simbólica da expiação e intercessão, e que formava o elo de ligação entre o Céu e a Terra. Nesse compartimento estava a arca, uma caixa feita de acácia, coberta de ouro por dentro e por fora, e tendo uma coroa de ouro em redor de sua parte superior. Fora feita para ser o receptáculo das tábuas de pedra, sobre as quais o próprio Deus escrevera os Dez Mandamentos.... A cobertura da caixa sagrada chamava-se propiciatório. Este era feito de uma peça inteiriça de ouro, e encimado por querubins do mesmo metal, ficando um de cada lado.  ... Acima do propiciatório estava o shekinah, manifestação da presença divina; e dentre os querubins Deus tornava conhecida a Sua vontade.” (PP 347-349).

O propiciatório e o pedido de perdão (Lv 16:15,16)

Além de ser o local da manifestação da glória de Deus, o propiciatório era o local onde o sangue do bode sacrificado no dia da expiação era aspergido. Ao aspergir o sangue sobre o propiciatório, o sumo sacerdote estava entregando a Deus, a oferta pelo pecado do povo, e não apenas o pecado de um dia, mas de todo o ano. O texto é bastante forte, pois diz que era feita expiação por todas as impurezas lançadas no santuário durante o ano, por todos os pecados do povo. Seguindo a lógica dos símbolos e dos rituais que envolvem o santuário, percebemos que ao lançar o sangue sobre o propiciatório, o sacerdote estava suplicando a Deus que aceitasse o pedido de perdão da nação. Diante de Deus, da sua santa presença eram lançados os pecados do povo, a assim havia um pedido de perdão, de misericórdia. Era a súplica pela graça divina! Era como se o povo todo dissesse naquele momento: “Senhor, sê propicio a mim pecador.” O verso 31 mostra que esse dia era um dia de grande expectativa e o sentimento que devia tomar o povo era o de contrição, arrependimento, reconhecimento de sua condição pecaminosa – “afligireis a vossa alma”.

Aqui vemos um paralelo com a reação do publicano da parábola. Ele estava aflito, se sentia o maior dos pecadores, e sabia que se Deus não olhasse com misericórdia ele não poderia sobreviver ao juízo divino, pois nada que ele fizesse poderia coloca-lo em vantagem, nada que ele fizesse poderia desviar a punição de seu pecado. Somente o perdão de um Deus de amor seria capaz de tal ato!

III – SIMBOLO DO VERDADEIRO ARREPENDIMENTO

1. Uma necessidade “sê propicio a mim pecador” (v. 13)

Quando voltamos ao texto de Lucas, vemos que, o publicano estava perfeitamente ciente de sua necessidade. Ele não precisava de dinheiro, não precisava de finas roupas, nem ao menos do favor dos homens. O que aquele homem mais carecia era da misericórdia divina, ele necessitava do perdão de Deus apesar de suas falhas.

Esse reconhecimento, esse senso de incapacidade é que faz do publicano merecedor da atenção de Deus. Observemos que Jesus afirma que foi esse publicano, rejeitado, traidor, talvez até desonesto que saiu dali justificado. O publicano sabia que estava doente, sabia que precisava de socorro urgente, e mais ainda, sabia quem exatamente era Aquele que podia cura-lo. Ao contrário do fariseu que se exaltou, que se declarou justo, o publicano se coloca como alguém que tem todas as credenciais do mal. No verso 14 Jesus diz que todo aquele que se exalta será humilhado, e exaltação aqui está ligada exatamente ao senso de salvação pelas obras, ao pensamento de que Deus irá me premiar por aquilo que faço ou por aquilo que tenho.

Quando olhamos para o publicano, percebemos alguém que está diante de uma forte necessidade, a necessidade de ser perdoado! “A confissão não será aceitável a Deus sem o sincero arrependimento e reforma. E preciso que haja decisivas mudanças na vida; tudo que seja ofensivo a Deus tem de ser renunciado. Este será o resultado da genuína tristeza pelo pecado.” (Caminho a Cristo, 39)

2. Uma realidade “Cristo é a nossa propiciação” (Rm 3:23-26)

O apostolo Paulo divinamente inspirado nos mostra que a reação do povo de Israel no dia da expiação e também a atitude do publicano na parábola, é exatamente o que se espera daqueles que professam terem aceitado a Cristo como seu único salvador.

“Paulo utiliza a metáfora do sacrifício. Diz de Jesus Cristo que Deus o apresentou como alguém que pode obter o perdão de nossos pecados. A palavra que Paulo usa para descrever a Jesus Cristo é a palavra grega hilasterion. A palavra provém do verbo grego que denota conciliar. É um verbo que tem que ver com o sacrifício.” (Barclay, 68)

Nesse texto Paulo aponta tanto para a metáfora do santuário como também nos faz considerar a atitude do publicano. O apostolo está nos mostrando que, a menos que confiemos unicamente nos méritos de Jesus, nunca poderemos ser salvos. Ele afirma que somos “justificados unicamente por sua graça”. Não há espaço para orgulho, não há espaço para pensarmos em méritos ou vantagens. Não importa se você é crente a 30 anos, também não interessa se você guarda os dez mandamentos, assim como também não importa se você devolve fielmente os dízimos ou é vegetariano. Essas coisas obviamente são importantes, mas não podem salvar quem quer que seja, pois se pudessem, o fariseu da história não deveria ser censurado por Cristo. Ele fazia tudo isso e mais um pouco!

Paulo aqui nos faz ver uma realidade: Somente Jesus Cristo pode nos colocar em posição de estar em pé diante de Deus. Somente o Redentor da Cruz pode fazer com que Deus seja propicio a nós, os pecadores. Estamos diante da mais bela e importante realidade.

“Quando, como seres pecaminosos e sujeitos ao erro, chegamos a Cristo e nos tornamos participantes de Sua graça perdoadora, surge o amor em nosso coração. Todo peso se torna leve; pois é suave o jugo que Cristo impõe. O dever torna-se deleite, o sacrifício prazer. O caminho que dantes parecia envolto em trevas, torna-se iluminado pelos raios do Sol da Justiça.” (Caminho a Cristo, 59)

Conclusões

1. Como pecadores que somos, devemos reconhecer nossa indignidade.
2. Devemos ainda reconhecer nossos pecados porque isso não é uma opção e sim uma necessidade.
3. Supliquemos a Deus constantemente pelo perdão de nossos pecados
4. Confiemos unicamente nos méritos de Cristo para remissão de nossos pecados, pois somente Ele é a nossa propiciação.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Predestinação - não é tão simples assim

Pensarmos em um decreto pré-temporal, para eleger alguns e condenar outros incondicionalmente não é de fato uma eleição “em Cristo”. E porque não? Porque nesse contexto Cristo é dado posteriormente à eleição, ou seja, primeiro escolhe que vai se salvar para depois Jesus morrer por essas pessoas. Então a eleição não foi feita primariamente "em Cristo". Embora “em Cristo” às vezes seja introduzido nessa teoria de eleição, é somente como um método de efetivar a decisão divina. Por detrás desse “em Cristo” há ainda a etapa mais profunda de eleição e condenação. O ato de eleição em si é fora de Jesus Cristo. A eleição incondicional talvez fizesse mais sentido se ela fosse feita depois da morte de expiatória de Cristo (e olhe lá). Essa é uma questão que a ala reformada da igreja ainda não conseguiu solucionar. Inclusive é o que diz James Daane em seu livro "The Freedom of God".

O outra questão é que na ótica da eleição incondicional Deus é o autor e causador do mau. Ainda que alguns calvinistas neguem que Deus seja o autor do pecado, fica muito dificil dfender essa posição, ainda mais quando lemos eruditos reformados como Peter Y. de Jong dizer que “Deus claramente pré-ordena o mal”. (Crisis in the Reformed Churches) A biblia diz que o mal nasceu no coração do diabo enqto ele era perfeito e ainda habitava no céu. Seguindo o pensamento de Jong, foi Deus quem plantou essa semente maligna no coração de lùcifer. Logo podemos ver um Deus que é pior do que o diabo, uma vez que esse Deus é quem o estabeleceu como portador do mal. Observe, o texto de Ez 28:15 diz que Lúcifer era "perfeito em seus caminhos". Então Deus destruiu essa perfeição, e isso o torna o vilão causador do mal.

Importante que esse dois pontos de reflexão que estou colocando, são propostos pelos próprios reformados, não se trata de um argumento de oponente, mas sim de uma questão de ordem lógica que os próprios calvinistas nao conseguiram ainda responder.

E mais uma coisa. Fique claro que não acho que Calvino tenha sido um teólogo inexpressivo, ou não fosse um cristão genuíno. Calvino, Lutero, Huss, Arminio,  Aquino, Agostinho, e tantos outros cometeram erros e acertos.A questão pra mim é encontrarmos teologica e logicamente um ponto de equilibrio das declarações desses grandes homens de Deus

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Extraído e adaptado de https://setimodia.wordpress.com/2008/11/25/10-principais-dificuldades-do-sistema-teologico-calvinista/ 

Pluralismo Religioso

Andei lendo, vendo, e pensando em algumas coisas. Fiquei tão impressionado e preocupado que resolvi escrever sobre o assunto, espero que d...