domingo, 29 de março de 2020

Batismo nas águas - Mc 16:16


Dentro do contexto cristão o batismo pode ser considerado o rito mais importante. Jesus foi muito claro ao dizer que quem crer deve ser batizado (Marcos 16:16), uma vez que o batismo aponta para o novo nascimento (João 3:5). Quando o individuo aceita ser batizado ele está dizendo que deixará para trás a velha vida e viverá agora guiado pelo Espírito Santo. O próprio Jesus foi batizado por João Batista, e esse acontecimento marca o inicio do seu ministério terrestre. A vida de Jesus era uma antes do batismo, e depois do batismo passa ser outra. Sem sombra de dúvidas o batismo é um marco na vida de todo seguidor de Cristo.

Existe porém um pensamento de que todo aquele que foi batizado está salvo para sempre. Há até quem use a expressão “uma vez salvo, salvo para sempre” para validar a ideia de que basta ser batizado e está tudo resolvido. Essa inclusive pode ser a razão por que algumas pessoas batizam seus bebês recém nascidos. Devemos observar porém, que a perspectiva bíblica do batismo não é essa. O batismo não é um passaporte ou um visto que nos dará direito ao céu independe de como vivemos. Batismo exige compromisso com Deus, Jesus, com Espírito Santo, com a Bíblia, e com os mandamentos.

Antes que alguém se apresse em dizer que eu estou defendo a salvação pelas obras não, não é isso. Somos salvos pela graça (compromisso com Cristo), e motivados pela salvação obtida em Jesus obedecemos às orientações da Palavra (compromisso com os mandamentos), não para sermos salvos, mas por que já fomos salvos. Isso fica muito claro na história do povo de Israel quando saíram do Egito.

Em Êxodo 20:1 e 2 lemos: “Então, falou Deus todas estas palavras: Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão”. Essa declaração é muito importante porque ela aparece antes de serem proclamados os Dez Mandamentos, constituindo assim o fator de motivação para obediência, ou seja, o povo foi salvo primeiro, libertado do Egito, a terra da escravidão, terra do medo, da vergonha, desobediência, e só depois que eles saem de lá é que são chamados para obedecer. Resumindo, a salvação vem primeiro, a graça chega primeiro e depois que reconhecemos a graça somos motivados a obedecer.

A essa altura você pode estar perguntando o que isso tem a ver com batismo, não é mesmo? Pois bem, logo depois que o povo saiu do Egito eles foram figuradamente batizados. Passaram pelas águas do Mar Vermelho e ali deveria para eles ser o marco da nova vida que deveriam viver, em gratidão e amor ao SENHOR que os havia livrado com braço forte. A passagem pelo Mar Vermelho pode ser um símbolo do batismo nas águas daqueles que entregam a vida a Jesus Cristo, deixando a velha vida para trás, deixando o Egito (pecado) no passado e tentando caminhar de forma diferente.

Mas o que vemos na história do povo hebreu não foi uma atitude de entrega e gratidão. Eles murmuraram, blasfemaram, desobedeceram, mesmo depois de terem visto o poder de Deus bem diante dos seus olhos. Aquele batismo no Mar Vermelho para eles não valeu de nada. E a maior evidência disso é que quarenta anos depois toda aquela geração que saiu do Egito não entrou na terra prometida. Isso te diz alguma coisa?

O que eu quero dizer é que, nem todo aquele que passa pelo batismo chegará ao Céu se não aceitar o compromisso de obedecer a Deus, de honra-lo, de ama-lo seja no deserto ou na pastagem verdejante. A Bíblia afirma claramente: “nenhum dos homens que, tendo visto a minha glória e os prodígios que fiz no Egito e no deserto, todavia, me puseram à prova já dez vezes e não obedeceram à minha voz, nenhum deles verá a terra que, com juramento, prometi a seus pais, sim, nenhum daqueles que me desprezaram a verá”. (Números 14:22,23) Dos dois milhões de pessoas que saíram do Egito somente Calebe e Josué tiveram a alegria de entrar na terra prometida.

É importante notar que antes de entrarem em Canaã, a nova geração também passa por um batismo, agora no rio Jordão (Josué 3:14-17). E mais uma vez as águas se abrem e o povo redimido tem a oportunidade entrar em aliança com Deus. Um paralelo interessante é que, assim como a nova jornada de Jesus se inicia no rio Jordão, o povo hebreu também passa pelas mesmas águas e assim estão em condição de possuir a terra que o SENHOR havia prometido para eles.

Se você já é batizado como você está vivendo o compromisso que fez com Cristo no dia do seu batismo? Se você ainda não é batizado o que te falta para entregar a vida nas mãos do Deus libertador. Ele pode nos libertar dos vícios, das brigas, da depressão, do desespero, do medo, e colocar em nosso coração a certeza da salvação, seja andando pelo deserto ou pelos pastos verdes. Em breve vamos atravessar a margem para entrar na Cidade Santa e somente aqueles que levaram a sério o compromisso com Cristo poderão passar pelo mar de vidro (Apocalipse 15:2).

Lembre-se, a vida de Jesus era uma antes do batismo, e após a sua passagem pelas águas ele aceita formalmente as responsabilidades de sua nova vida. Façamos o mesmo!


sábado, 28 de março de 2020

Imagens da Salvação


O tema central da Bíblia é a salvação. Desde o livro de Genesis até o Apocalipse de João a salvação é o fio condutor de toda narrativa bíblica. Muitas linguagens, imagens e metáforas são usadas ao longo de toda a Bíblia para descrever a redenção que Deus oferece ao homem por meio de Jesus Cristo.

No Pentateuco aparecem, por exemplo, expressões como “sacrifício pelo pecado”, “oferta pelo pecado”, temos também a expressão “propiciação”, “aliança”, “pacto” entre tantas outras. Os profetas também tratam do assunto usando expressões como “renovo”, “purificação”(Ez 36:33), “lavar” (Ez 36:34), “compadecer” (Os 1:7), “expiação” (Am 3:21), “eleição” (Is 41:8); “resgate” (Is 43:3).

No Novo Testamento o volume de expressões também é enorme. Nos evangelhos temos expressões como “nascer de novo” (Jo 3:4), “vida eterna” (Mt 19:16), “cordeiro de Deus” (Jo 1:29). Outros termos como “livro da vida”(Ap 20:15), “remanescente” (Rm 9:27) também aparecem. A lista poderia ser ainda maior, mas como não quero cansa-lo vou parar por aqui.

O que deve ficar claro é que Deus se utiliza de muitas linguagens para tornar claro pra nós o desejo que Ele tem de nos salvar e também a forma como isso de fato se realizada em nossa vida. De tudo que a Bíblia apresenta a mensagem fundamental é o desejo que o SENHOR tem de nos recuperar para Si.

Existem quatro termos que julgo serem muito importantes para nossa compreensão do tema “salvação”, são eles: redenção, reconciliação, propiciação e justificação. Esses termos ora aparecem juntos, ora separados. Vamos fazer uma breve (bem breve mesmo) análise desses termos.

1.   Redenção (ἀπολύτρωσις / apolitrosis): esse termo é usado no contexto do mercado, quando um escravo por exemplo é comprado por outra pessoa e passa ter alguns direitos e deveres na casa do seu patrão. A ideia é que éramos escravos do pecado e fomos comprados pelo sangue de Cristo para alcançarmos a liberdade. Essa liberdade, contudo deve ser vivida com responsabilidade já que por gratidão àquele que nos redimiu devemos nos comportar de forma apropriada e digna. “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados.” (Colossenses 1:13,14)

2.      Reconciliação (καταλλάξαντος / katalaxantos): no caso dessa expressão ela é usada em contexto familiar, quando por exemplo um pai deseja reconciliar-se com seu filho que por alguma razão se distanciou. No livro de Lucas capÍtulo 15 temos a parábola do filho pródigo, onde o pai busca (re)conciliar os dois filhos. Da mesma maneira, Deus deseja reconciliar-se conosco, ainda que nós tenhamos voluntariamente nos afastado dele. “Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação” (2 Coríntios 5:18,19). Através de Jesus Cristo, Deus nos oferece a reconciliação, deixando para trás nossas iniquidades e nos recebendo de volta. Contudo, devemos lembrar que essa reconciliação pode ser rejeitada, ou seja, alguns podem não aceita-la e portanto continuar afastados de Deus. A reconciliação, assim como em todo processo de salvação esbarra em nossa decisão.

3.      Propiciação (ἱλαστήριον / hilasterion): Esse é um termo usado no contexto de sacrifício. No livro de Êxodo 25:10-22 lemos que Deus instruiu Moisés a construir a arca da aliança e também uma tampa para ela que recebeu o nome de propiciatório. Uma vez por ano o sumo sacerdote deveria entrar na tenda sagrada, no santo dos santos e aspergir o sangue do bode sobre o propiciatório. Nesse ato o sumo sacerdote simbolizando a Cristo, apresentava a Deus o sague oferecido para remissão dos pecados do povo. “a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos (Romanos 3:25). O sangue de Jesus derramado por nós é apresentado diante de Deus fazendo assim a propiciação pelos nossos pecados. Todo aquele que aceita o sacrifício de Jesus em substituição pelos seus pecados recebe portanto a propiciação, uma vez que essa consiste na apresentação do sangue inocente derramado em lugar do pecador.

4.      Justificação (δικαιοῦται / dikaioutai): Esse é um termo judicial, e está relacionado ao ambiente de julgamento onde alguém é inocentado, não pelas provas, mas pela misericórdia do juiz. Sendo Paulo conhecedor dos termos jurídicos de sua época, ele faz uso dessa expressão para deixar claro que ninguém tem condições de se declarar justo. Somente Deus mediante a obra intercessora de Jesus pode nos declarar inocentes. Esse pensamento é claramente identificado na parábola do fariseu e do publicano (Lucas 18:9-14). O primeiro se achava justo por causa de suas “boas obras”, enquanto o segundo reconhecia seu pecado, suas falhas, e não podia fazer outra coisa a não ser clamar por perdão e misericórdia. “sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado” (Gálatas 2:16). É a aceitação do sacrifício de Jesus que nos torna justos. Somente reconhecendo nossos pecados e aceitando a Jesus como único meio de salvação é que de fato seremos considerados justos, “não por obras para que ninguém se glorie” (Efésios 2:9).

Essas e outras linguagens são usadas na Bíblia para nos mostrar que Deus está à nossa disposição, de braços abertos para oferecer perdão, poder e salvação. Perdão dos nossos muitos pecados, poder do Espírito para vencermos as ciladas que Satanás colocará diante de nós, e a salvação como prêmio final daqueles que reconhecem a Jesus como seu único Salvador.

Jesus é apresentado nas Escrituras como aquele que, por meio do seu sangue (redenção) pagou o preço na nossa salvação; ele também é apresentado como o pai que busca os seus filhos perdidos (reconciliação); Jesus é também descrito como o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (propiciação); e finalmente Ele aparece como o advogado e juiz que vai nos declarar inocentes (justificação).

Que todos nós aceitemos a oferta de Deus para remissão dos nossos pecados, e assim, em gratidão pela salvação já alcançada, vivamos em obediência aos seus sagrados mandamentos.

Deus te abençoe.

Pr. Vanius H. Dias

sábado, 21 de março de 2020

O Evangelho Anti-Social - Ap 14:6-7


Não há como negar que pregar o evangelho envolve aliviar as dores daqueles que sofrem. Em Tiago 1:27 lemos claramente que a religião relevante é aquela que se preocupa com as necessidades do próximo. Se você se diz cristão mas não se importa com o sofrimento alheio, sinto muito mas você não é cristão.


Contudo, uma coisa deve ficar muito clara. Embora a pregação do evangelho envolva o cuidado com as necessidades das pessoas, a mensagem do evangelho não é essa. E antes que você fique bravo comigo me deixe explicar. Atender a necessidade as pessoas pode ser visto como uma ferramenta que vai nos ajudar a acessar o coração das delas. Obviamente será difícil alguém que está com fome me ouvir falar sobre a salvação em Cristo se sua necessidade física não for saciada. Por outro lado, o pregador não pode esquecer que o conteúdo ou o objetivo da pregação não é a luta contra a fome, ou a erradicação da pobreza, a luta de classes. A  pregação do evangelho é informar ao mundo quem é Jesus, o que ele fez na cruz, o que ele faz agora por cada um de nós, e também o que fará em breve quando voltar a esse mundo para resgatar os seus filhos.

Existe um ala cristã que defende o chamado “Evangelho Social”. Esse pensamento defende em resumo que o cristianismo existe para acabar com a pobreza, a injustiça, a desigualdade que há no mundo. Segundo T. A. McMahon, esse movimento teve inicio por volta do ano 1800, e tinha como fator motivador a busca por minimizar o sofrimento das pessoas, e assim atraí-las para o evangelho. Outro pensamento era que os cristãos deveriam lutar pelas minorias como mulheres, negros e crianças. A verdade é que os que acreditavam no evangelho social se empenhavam (e ainda se empenham) em tornar o mundo um lugar melhor, com a justificativa de prepara-lo para o vindouro reino de Deus.

Isso pode até parecer bonito, e no contexto atual até soa politicamente correto, contudo devemos entender que se quisermos que o evangelho simplesmente torne o mundo um lugar melhor e mais justo, então pra que desejar a pátria superior? Qual a necessidade de esperar a volta de Jesus se o mundo será um lugar melhor? Logo vale refletir que o foco do evangelho é o reino de Deus, e esse reino não é desse mundo.

Em Apocalipse 14:6 e 7 lemos:

“Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas.”

Vamos entender o texto (resumo)
Símbolo
Interpretação
Anjo
Mensageiro, pregadores, eu e você
Voando
Velocidade, urgência
Evangelho eterno
Mensagem de salvação pregada desde o Edem
Nação, tribo, língua, povo
O mundo inteiro sem distinção
Temei a Deus e lhe glória
Amor a Deus, zelo profundo, louva-lo por quem ele é
Hora do juízo
Momento em que todos deveremos prestar contas com o Eterno
Adorai aquele que fez
Ele é o criador e essa é a motivação para adorá-lo

Dessa forma quando refletimos sobre a pregação do evangelho devemos compreender pelo menos cinco pontos:

1)Temos a responsabilidade de anunciar o evangelho de forma urgente;
2) O evangelho não é uma novidade, ele existe desde a eternidade (Ap 13:8);
3) O mundo inteiro deve ser o alvo dessa mensagem, não está restrito à uma classe social específica;
4) Deus é o centro dessa pregação, não o ser humano;
5) A verdadeira adoração é fruto da correta compreensão do evangelho eterno;

O que eu gostaria que você entendesse é que embora tenhamos a responsabilidade de cuidar dos necessitados, de assistir aqueles que são abandonamos à margem da sociedade, devemos mais ainda mostrar a essas pessoas que a solução para os problemas que eles enfrentam não está aqui neste mundo. O evangelho nos conduz a algo muito maior, a eternidade preparada para aqueles que se entregam a Jesus.

O discurso de que, o que Deus espera de nós é o amor ao próximo e ponto final, não condiz com o verdadeiro evangelho. Se amarmos de fato o próximo vamos sim nos preocupar com suas necessidades básicas aqui nesta terra, mas muito mais vamos nos preocupar com a salvação desse indivíduo. Vamos denunciar o pecado, sem a necessidade de massacrar o pecador, vamos dizer que existe um juízo eminente, e que para sermos aprovados diante de Deus devemos nos entregar a ele aceitando o sacrifício de Jesus, e em consequência disso buscar a mudança de vida exigida daqueles que desejam ser imitadores de Cristo (1Co 11:1).

Uma igreja que se empenha em apenas transformar a vida das pessoas aqui nesta terra não está pregando o verdadeiro evangelho. Ela está iludindo as pessoas, e plantando no coração delas o desejo de ficarem aqui, enquanto perdem de vista promessas muito superiores. O apóstolo Paulo captou bem o plano de Deus por meio do evangelho ao declarar que “...nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.” (1 Coríntios 2:9)

Deus tem muito mais pra nós do que igualdade social, empregos ou direitos trabalhistas. Maranata!


segunda-feira, 2 de março de 2020

A Glória da Cruz - 1Co 1:18


Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus. (1 Coríntios 1:18)

Uma das áreas de estudo dentro da teologia é filosofia. Não sou nenhum especialista em assuntos filosóficos, mas gosto muito de estudar tais temas. Um exercício que gosto de fazer é investigar um pouco da vida dos filósofos, desde os mais conhecidos como Platão e Sócrates, bem como outros menos populares como Lao Zi que é considerado o fundador do taoismo filosófico. Embora não concorde com tudo que eles falaram, é importante reconhecer que reflexões importantes podem ser extraídas do pensamentos desses grandes intelectuais.

Entre os filósofos gregos, existe um que eu acho bastante interessante pelo fato dele ter sido contemporâneo de Jesus Cristo, e ter visto, vivenciado algumas das experiências daqueles dias. Estou falando de Lucius Annaeus Seneca, ou simplesmente Sêneca. Esse filósofo nasceu em 4 a.C., na cidade de Córdoba na Espanha, era de origem importante, e sua família poderia ser considerada ilustre naqueles dias. Sêneca se tornou um dos mais importantes advogados do Império Romano, sendo também um dramaturgo de sucesso. Mais tarde se tornou uma referência para a dramaturgia europeia, sobre tudo no renascentismo.

No ano 41, Sêneca foi acusado pela esposa do imperador Cláudio, de ter cometido adultério com Júlia Lívila, sobrinha do imperador. Isso o levou a ser exilado em Córsega, e nesse período Sêneca dedicou-se aos estudos e escreveu boa parte de seus tratados filosóficos.

Tendo sido prisioneiro e conhecendo a maneira como os romanos lidavam com os condenados, Sêneca deu uma declaração bastante significativa. Ele disse certa vez, escrevendo à um amigo, que preferia se suicidar do que ser crucificado. Só pra termos uma ideia, a morte de cruz era a punição dada aos pobres, os escravos ou àqueles que hoje chamaríamos de “ladrões de galinha”. Morrer crucificado não era só terrível pela forma cruel como as execuções eram feitas, mas também porque não comunicava nenhuma glória ou prestígio ao condenado. Resumindo, para Sêneca, além de cruel seria uma humilhação morrer como um “João Ninguém”.

Como eu disse no começo, Sêneca viveu na mesma época que Jesus, e seguramente se pudéssemos entrevistá-lo para pedir sua visão sobre como Cristo se sentiu, o filósofo espanhol poderia nos dar grandes contribuições. Ele conhecia o contexto romano, já havia sido preso, teve sua vida ameaçada e tinha medo da morte de cruz por conhecê-la muito bem.

Esse pensamento parece ser o pano de fundo do texto do apóstolo Paulo em 1 Coríntios 1:18 que diz “Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus.” Com certeza a cruz era uma loucura, e falar em um suposto salvador que morreu pendurado num madeiro sem glamour nenhum era um absurdo. Usando o argumento de Sêneca como base, seria uma aberração acreditar que um homem que foi morto da forma mais cruel e indigna que existia pudesse ser o rei de Israel, ou mesmo um mártir.

Mas veja, podemos fazer algumas perguntas: quem conhece Sêneca que preferia o suicídio à humilhante morte de cruz? O que significa a cruz hoje? Qual o valor atribuído ao madeiro em que “criminosos” como Jesus foram crucificados?

Não há como negar o poder da cruz! Alguns podem até não aceitar o significado soteriológico da cruz, mas não pode negar que ela é um objeto que tem impactado a vida de bilhões de pessoas mundo à fora. E porque isso? Por que a cruz tem esse poder? Obviamente a resposta não está na cruz em si, mas naquele que foi pendurado nela naquela sexta-feira pascal. A importância da cruz está intimamente ligada, e é impossível desassocia-la, da pessoa de Jesus Cristo. O poder da cruz é o poder de Cristo, o poder de Deus para salvar aquele que crê!

Se Sêneca fosse condenado à morte de cruz, isso seguramente não daria à ela o valor que tem atualmente. Mas, quem morreu na cruz foi o Verbo de Deus, a Palavra encanada, a Palavra de poder.
A cruz não é importante em si mesma, ela é o que é por causa daquele que foi pendurado, morto e ressuscitado. A cruz não tem glória nenhuma e nesse ponto Sêneca tinha razão, a glória está em Cristo, o Cristo vitorioso. E a propósito, a cruz está vazia!

Gaste tempo refletindo sobre a cruz, pensando no sacrifício de Jesus por cada um de nós, por você.

 “Far-nos-ia bem passar diariamente uma hora a refletir sobre a vida de Jesus. Deveremos tomá-la ponto por ponto, e deixar que a imaginação se apodere de cada cena, especialmente as finais. Ao meditar assim em Seu grande sacrifício por nós, nossa confiança nEle será mais constante, nosso amor vivificado, e seremos mais profundamente imbuídos de Seu espírito” (Ellen White, MM, 2004).

Deus te abençoe!

Pluralismo Religioso

Andei lendo, vendo, e pensando em algumas coisas. Fiquei tão impressionado e preocupado que resolvi escrever sobre o assunto, espero que d...