sábado, 28 de março de 2020

Imagens da Salvação


O tema central da Bíblia é a salvação. Desde o livro de Genesis até o Apocalipse de João a salvação é o fio condutor de toda narrativa bíblica. Muitas linguagens, imagens e metáforas são usadas ao longo de toda a Bíblia para descrever a redenção que Deus oferece ao homem por meio de Jesus Cristo.

No Pentateuco aparecem, por exemplo, expressões como “sacrifício pelo pecado”, “oferta pelo pecado”, temos também a expressão “propiciação”, “aliança”, “pacto” entre tantas outras. Os profetas também tratam do assunto usando expressões como “renovo”, “purificação”(Ez 36:33), “lavar” (Ez 36:34), “compadecer” (Os 1:7), “expiação” (Am 3:21), “eleição” (Is 41:8); “resgate” (Is 43:3).

No Novo Testamento o volume de expressões também é enorme. Nos evangelhos temos expressões como “nascer de novo” (Jo 3:4), “vida eterna” (Mt 19:16), “cordeiro de Deus” (Jo 1:29). Outros termos como “livro da vida”(Ap 20:15), “remanescente” (Rm 9:27) também aparecem. A lista poderia ser ainda maior, mas como não quero cansa-lo vou parar por aqui.

O que deve ficar claro é que Deus se utiliza de muitas linguagens para tornar claro pra nós o desejo que Ele tem de nos salvar e também a forma como isso de fato se realizada em nossa vida. De tudo que a Bíblia apresenta a mensagem fundamental é o desejo que o SENHOR tem de nos recuperar para Si.

Existem quatro termos que julgo serem muito importantes para nossa compreensão do tema “salvação”, são eles: redenção, reconciliação, propiciação e justificação. Esses termos ora aparecem juntos, ora separados. Vamos fazer uma breve (bem breve mesmo) análise desses termos.

1.   Redenção (ἀπολύτρωσις / apolitrosis): esse termo é usado no contexto do mercado, quando um escravo por exemplo é comprado por outra pessoa e passa ter alguns direitos e deveres na casa do seu patrão. A ideia é que éramos escravos do pecado e fomos comprados pelo sangue de Cristo para alcançarmos a liberdade. Essa liberdade, contudo deve ser vivida com responsabilidade já que por gratidão àquele que nos redimiu devemos nos comportar de forma apropriada e digna. “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados.” (Colossenses 1:13,14)

2.      Reconciliação (καταλλάξαντος / katalaxantos): no caso dessa expressão ela é usada em contexto familiar, quando por exemplo um pai deseja reconciliar-se com seu filho que por alguma razão se distanciou. No livro de Lucas capÍtulo 15 temos a parábola do filho pródigo, onde o pai busca (re)conciliar os dois filhos. Da mesma maneira, Deus deseja reconciliar-se conosco, ainda que nós tenhamos voluntariamente nos afastado dele. “Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação” (2 Coríntios 5:18,19). Através de Jesus Cristo, Deus nos oferece a reconciliação, deixando para trás nossas iniquidades e nos recebendo de volta. Contudo, devemos lembrar que essa reconciliação pode ser rejeitada, ou seja, alguns podem não aceita-la e portanto continuar afastados de Deus. A reconciliação, assim como em todo processo de salvação esbarra em nossa decisão.

3.      Propiciação (ἱλαστήριον / hilasterion): Esse é um termo usado no contexto de sacrifício. No livro de Êxodo 25:10-22 lemos que Deus instruiu Moisés a construir a arca da aliança e também uma tampa para ela que recebeu o nome de propiciatório. Uma vez por ano o sumo sacerdote deveria entrar na tenda sagrada, no santo dos santos e aspergir o sangue do bode sobre o propiciatório. Nesse ato o sumo sacerdote simbolizando a Cristo, apresentava a Deus o sague oferecido para remissão dos pecados do povo. “a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos (Romanos 3:25). O sangue de Jesus derramado por nós é apresentado diante de Deus fazendo assim a propiciação pelos nossos pecados. Todo aquele que aceita o sacrifício de Jesus em substituição pelos seus pecados recebe portanto a propiciação, uma vez que essa consiste na apresentação do sangue inocente derramado em lugar do pecador.

4.      Justificação (δικαιοῦται / dikaioutai): Esse é um termo judicial, e está relacionado ao ambiente de julgamento onde alguém é inocentado, não pelas provas, mas pela misericórdia do juiz. Sendo Paulo conhecedor dos termos jurídicos de sua época, ele faz uso dessa expressão para deixar claro que ninguém tem condições de se declarar justo. Somente Deus mediante a obra intercessora de Jesus pode nos declarar inocentes. Esse pensamento é claramente identificado na parábola do fariseu e do publicano (Lucas 18:9-14). O primeiro se achava justo por causa de suas “boas obras”, enquanto o segundo reconhecia seu pecado, suas falhas, e não podia fazer outra coisa a não ser clamar por perdão e misericórdia. “sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado” (Gálatas 2:16). É a aceitação do sacrifício de Jesus que nos torna justos. Somente reconhecendo nossos pecados e aceitando a Jesus como único meio de salvação é que de fato seremos considerados justos, “não por obras para que ninguém se glorie” (Efésios 2:9).

Essas e outras linguagens são usadas na Bíblia para nos mostrar que Deus está à nossa disposição, de braços abertos para oferecer perdão, poder e salvação. Perdão dos nossos muitos pecados, poder do Espírito para vencermos as ciladas que Satanás colocará diante de nós, e a salvação como prêmio final daqueles que reconhecem a Jesus como seu único Salvador.

Jesus é apresentado nas Escrituras como aquele que, por meio do seu sangue (redenção) pagou o preço na nossa salvação; ele também é apresentado como o pai que busca os seus filhos perdidos (reconciliação); Jesus é também descrito como o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (propiciação); e finalmente Ele aparece como o advogado e juiz que vai nos declarar inocentes (justificação).

Que todos nós aceitemos a oferta de Deus para remissão dos nossos pecados, e assim, em gratidão pela salvação já alcançada, vivamos em obediência aos seus sagrados mandamentos.

Deus te abençoe.

Pr. Vanius H. Dias

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