segunda-feira, 4 de junho de 2018

A Lei e os Profetas


Essas orientações foram escritas em resposta à um internauta que questionou o uso e significado dos termos "lei e profetas". Obviamente o assunto não será esgotado, mas podemos ter um vislumbre de como entender esses termos dentro da Bíblia Sagrada.

1) A Biblia Sagrada é um livro antigo, e portanto foi escrito dentro de um contexto específico, em épocas específicas, por pessoas diferentes, das mais variadas classes. Dessa forma, ao fazermos uma leitura do texto bíblico não podemos nos esquecer do distanciamento que existe entre nós e o escritor original. Caso isso não seja levado em conta as interpretações podem ser equivocadas.

2) Existem termos técnicos ou mesmo idiomatismos que devem ser considerados no momento de fazermos uma exegese adequada do texto sagrado. Por exemplo, temos que saber o que significava para os leitores primários da bíblia a palavra "gentio" ou “incircunciso”, caso contrário poderemos cometer equívocos na interpretação do texto.

3) No caso específico dos termos "Lei" e "Profetas", nada mais são do que uma referência ao Antigo Testamento (veja Mt 7:12; 11:13; Lc 16:16; 24:44; Jo 1:45 entre outros) . O judaísmo divide o AT em 3 partes: Torah (Lei), Neviim (Profetas), Kethuviim (Escritos). Essas três divisões pode aparecer com algumas variações como, “Lei e profetas”, “Escritos”, “Profetas” ou ainda “Escrituras”. Em outras palavras, todos esses termos são usados de forma cambiável para se referirem ao conjunto de livros do AT.

4) Quando Jesus diz que não veio abolir a “Lei ou os profetas”, ele está afirmando que não veio mudar a mensagem do AT. Jesus não parece estar preocupado em expor as minúcias do AT, sua ênfase é na mensagem que foi deixada por Deus através de Moises e os demais escritores, a saber, a salvação por meio de Cristo.

5) Quando Paulo por exemplo faz uso da palavra “Lei”, ele pode tanto estar se referindo a tudo que foi escrito por Moisés, ou pode estar falando de porções especificas. Ao afirmar que a “Lei é santa e o mandamento santo justo e bom” (Rm 7:12) por exemplo, temos uma referencia clara aos dez mandamentos, uma vez que no verso 7 ele cita “não cobiçaras”. Sendo assim, é necessário entender o contexto e a linguagem empregada em cada texto para sabermos exatamente do que estamos falando. Aproveito para citar o que diz F.F. Bruce (não é adventista) em seu comentário sobre o texto de Romanos 7, ao refletir sobre o pensamento de Paulo: "A obrigação de guardar a lei envolvia antes de tudo a obrigação de saber e obedecer aos Dez Mandamentos. Ê matéria de conhecimento geral que as proibições tendem a despertar o desejo de fazer aquilo que é proibido" .(Romanos - Introdução e Comentário. Ed. Vida Nova. Pg. 72)

6) Quando encontramos expressões “lei”, ou “lei abolida” precisamos identificar de qual lei estamos falando. O raciocínio é simples: se admitirmos que quando o texto sagrado diz que as leis ou ordenanças foram abolidas não é necessário entender de qual lei estamos tratando, então vamos ter que concordar em abolir a idolatria, o adultério, a mentira, etc, e não somente o sábado. Esse é um pensamento perigoso pois pode nos desviar da obediência à vontade de Deus.

7) Devemos lembrar ainda que a bíblia apresenta varias leis, e em muitas passagens essas leis estão dividas como que por categorias (veja Lv 11; 17:1-9; 19; 21; 22; 25:35-38; 27:30-34 e muitos outros). Isso mostra que existiam claramente uma diferenciação daquilo que tinha caráter irrevogável daquilo que poderia ser adaptado. Além disso temos ainda os textos no NT testamento que deixam claro que a lei abolida se refere aos rituais de sacrifício que apontavam para a obra salvífica de Jesus (Hb 7:11-18; 9:11-14).

8) O termo “Lei” é amplo, e deve ser compreendido dentro de seu devido contexto para que não venhamos colocar nossa opinião acima da Palavra de Deus. Quando lemos o NT não encontramos qualquer evidência de que os Dez Mandamentos foram mudados, cancelados, anulados ou abolidos.

Por fim, destaco duas falas importantes a respeito do assunto. A primeira foi dita por João: “Aquele que diz: Eu conheço-o, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade.” (1Jo 2:4). O outro texto foi mencionado pelo próprio Cristo: “Se me amais guardareis os meus mandamentos.” (Joao 14:15). Prefiro andar segundo a orientação bíblica, e tentar fazer o meu melhor em retribuição ao Deus que me amou primeiro.

Sem mais,

Vanius Henrique Dias
Bacharel em Teologia

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pluralismo Religioso

Andei lendo, vendo, e pensando em algumas coisas. Fiquei tão impressionado e preocupado que resolvi escrever sobre o assunto, espero que d...